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22 de Maio - Maria Nosso Refúgio nas Tentações




 

O demônio tem medo da Mãe de Deus. Não só do Céu e dos Santos é Maria Santíssima Rainha, senão também do Inferno e dos demônios, porque os venceu valorosamente com Suas virtudes. Já desde o princípio do mundo tinha Deus predito à serpente infernal a vitória e o império que sobre ela obteria nossa Rainha.


“Eu porei inimizade entre ti e a Mulher; Ela te esmagará a cabeça.” (Gn 3,16)

Mas que foi esta Mulher, sua inimiga, senão Maria, que com a Sua profunda humildade e santa virtude sempre venceu e abateu as forças de Satanás, como atesta S. Cipriano? É para se notar que Deus falou “eu porei” e não “eu ponho” inimizade entre ti e a Mulher. Isto faz para mostrar que a sua vencedora não era Eva, que já então vivia, mas uma sua descendente. Esta devia trazer a nossos primeiros pais, como diz São Vicente Ferrer, um bem maior do que aquele que tinha perdido com o seu pecado. Maria é, portanto, essa excelsa mulher forte que venceu o demônio e, em lhe abatendo a soberba, lhe esmagou a cabeça, conforme as palavras do Senhor: Ela te esmagará a cabeça. Duvidam alguns se estas palavras se referem a Maria ou a Jesus Cristo, porque os Setenta traduzem autós, isto é, ele esmagará a tua cabeça. Mas em nossa Vulgata (única versão da Sagrada Escritura aprovada pelo Concílio de Trento) lê-se ipsa, Ela, e não ipse, Ele. Assim também o entenderam Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Agostinho e muitíssimos outros. Mas, como quiserem, é certo que, ou o Filho por meio da Mãe, ou a Mãe por virtude do Filho, venceu a Lúcifer. Este espírito soberbo foi, portanto, para sua vergonha, calcado aos pés por esta Virgem bendita, na frase de São Bernardo, e como prisioneiro de guerra é obrigado a obedecer sempre às ordens desta Rainha. Diz São Bruno de Segni que Eva, vencida pela serpente, nos trouxe a morte e as trevas. Maria, porém, vencendo o demônio, nos trouxe a vida e a luz. E de tal modo o atou, que ele não pode mais se mover para causar o menor dano aos Seus devotos.


É bela a explicação que dá Ricardo de São Lourenço ao trecho dos Provérbios:


“O coração do homem (isto é, de Cristo) põe n'Ela a Sua confiança e Ele não necessitará de despojos” (31,11), pois Maria enriquece Seu Filho com os despojos que arranca ao demônio.

Deus confiou a Maria o Coração de Jesus para que Ela o faça amar pelos homens, comenta Cornélio a Lápide, e assim não Lhe faltarão despojos, isto é, almas conquistadas. Porque Maria o enriquece de almas, das quais despoja o Inferno, livrando-as do demônio com o Seu poderoso socorro.


É a palma um conhecido símbolo de vitória. Por isso foi nossa Rainha colocada num alto trono, à vista de todos os potentados celestes, como palma em sinal de segura vitória, que a si mesmos podem prometer-se todos aqueles que se põem debaixo do Seu patrocínio.


“Eu lancei em alto os meus ramos como a palmeira em Cades” (Eclo 24,18)

Isto é, acrescenta São Alberto Magno:


Eu estendo Minha mão sobre vós para vos proteger.

Parece Maria nos dizer


Filhos, quando o demônio Vos assaltar, recorrei a Mim, olhai para Mim e tende ânimo, porque em Mim, que vos defendo, vereis juntamente a vossa vitória.

Por isso o recorrer a Maria é um meio seguríssimo para vencer todos os assaltos do Inferno. Ela é também Rainha do Inferno e Senhora dos demônios, pois que os subjuga e doma, diz São Bernardino de Sena. Daí vem ser Maria chamada “terrível como um exército em ordem de batalha” (Ct 6,3). Pois sabe ordenar bem o Seu poder, a Sua misericórdia e os Seus rogos para a confusão dos inimigos e benefícios dos Seus servos, que nas tentações invocam o Seu poderosíssimo nome.


“Semelhante à vinha dei frutos de suave dor” – fá-La dizer o Espírito Santo (Eclo 24,23).

Aqui observa São Bernardo:


Dizem que toda serpente venenosa foge das vinhas em flor; assim fogem os demônios das almas afortunadas em que sentem o perfume da devoção de Maria.

Ela é comparada também ao cedro:


Crescendo, Me elevei como o cedro do Líbano. (Eclo 24,17)

À semelhança do cedro que é incorruptível, ficou também Maria isenta do pecado. E como o cedro afugenta com seu odor as serpentes, observa o Cardeal Hugo, com Sua santidade Maria afugenta os demônios. Por meio da Arca os israelitas obtinham suas vitórias nos combates. Graças a ela triunfaram de seus inimigos, sob Moisés. E quando se elevava a Arca, dizia ele:


Levanta-Te, Senhor, e dissipem-se os Teus inimigos! (Nm 10,35).

Assim foi tomada Jericó, assim foram desbaratados os filisteus, porque a Arca de Deus estava naquele dia com os filhos de Israel (1Rs 14,18). Ora, como se sabe, era a Arca figura de Maria. Assim como na Arca estava o maná, observa Cornélio a Lápide, no seio de Maria estava Jesus, de quem o maná foi figura. Por meio desta Arca concede-nos Ele a vitória sobre o mundo e o Inferno. Isto motiva as palavras de São Bernardino de Sena:


Quando Maria, Arca do Novo Testamento, foi exaltada nos Céus como Rainha, ficou abatido o poder do demônio sobre o homem.

Se os cristãos nas tentações tivessem cuidado de proferir com devoção e confiança o nome de Maria, é certo que não cairiam nelas. Pois, como diz o Beato Alano, foge o demônio e treme o Inferno ao som deste nome excelso. A mesma Senhora revelou a Santa Brígida que até dos pecadores mais perdidos, mais afastados de Deus, e mais possuídos do demônio, se aparta este inimigo, logo quando sente que eles, com verdadeira vontade de emenda, invocam o Seu poderosíssimo nome. Mas, acrescentou a Santíssima Virgem, se a alma não se emenda e não apaga seus pecados nas lágrimas do arrependimento, os demônios sem demora voltam e dela tomam conta.


 


EXEMPLO


Conta-se, na história do processo da beatificação de São Francisco de Salles, que em Chanblais, um moço possesso havia mais de cinco anos, foi levado ao sepulcro do grande Santo. Ali, submetido a um grande interrogatório, o demônio, furioso, uivava desesperado e não deixava a sua pobre vítima. Então a venerável Madre Chaugy exclamou, com sua proverbial e edificante piedade: "Ó Santa Mãe de Deus, rogai por nós! Maria, Mãe de Jesus, ajudai-nos!" Ouvindo o nome de Maria, o espírito infernal uivou, gritou horrorosamente: "Maria...Maria...Ah! eu não tenho Maria... Não digais este nome, que me espanta e estremece! Ah! se eu tivesse Maria, uma Maria como tendes, não seria o que sou!... Mas eu não tenho Maria!" Os assistentes choravam. O demônio ainda exclamou: "Se eu tivesse um desses momentos que perdeis e Maria, já não seria demônio!"


E eu mil vezes feliz, embora neste exílio tão perigoso da vida, e nas trevas de mil sofrimentos, tenho Maria e tenho tempo para me salvar! Não sou feliz? Oh! não haverá dor, nem amargura neste mundo que me façam desgraçado se me conservo fiel e devoto fervoroso da Mãe de Deus.


E eu tenho Maria! Que consolação! Que ventura!


 


ORAÇÃO


Ó Santíssima Senhora, Deus Vos elevou extraordinariamente e tornou-Vos todas as coisas possíveis. Por essa graça suplicamos que nos façais participar da Vossa glória, ó Vós que possuís a plenitude das graças. Empenhai-Vos, misericordiosíssima Senhora, empenhai-Vos pela nossa salvação, por cujo motivo Deus quis fazer-Se homem em Vossas castas entranhas. Dignai-Vos prestar ouvido às nossas súplicas. Se consentirdes em pedir por nós a Vosso Filho, Ele logo Vos atenderá. Basta que nos queirais salvar , para que sejamos infalivelmente salvos. Ora, quem nos poderia fechar as entranhas de Vossa piedade? Se não tiverdes compaixão de nós, Vós, que sois a Mãe de Misericórdia, que será de nós quando Vosso Filho nos vier julgar? Socorrei-nos, pois, o piedosíssima Senhora, sem atender à multidão de nossos pecados. Pensai bem e meditai que nosso Criador tomou carne humana em Vosso seio, não para condenar os pecadores, mas para salvá-los. Se não tivésseis sido feita Mãe de Deus senão para proveito Vosso, poderíamos dizer que pouco Vos importava que fôssemos condenados ou salvos; mas Deus revestiu-se de Vossa carne pela nossa salvação e pela de todos os homens. De que nos serviria Vosso poder e Vossa glória, se não nos fizésseis participar de Vossa felicidade? Ajudai-nos e protegei-nos, bem sabeis como precisamos de Vossa assistência. Nós nos encomendamos a Vós; fazei que não nos percamos, mas que sirvamos e amemos eternamente a Vosso Filho Jesus Cristo.


- Santo Afonso Maria de Ligório


 


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