A Santíssima Virgem amava a obediência
Quando da embaixada de São Gabriel não quis tomar outro nome senão o de escrava.
“Eis aqui a Escrava do Senhor”.
Com efeito, testemunha São Tomás de Vilanova, essa fiel escrava do Senhor nunca O contrariou, nem por ações, nem por pensamentos. Obedeceu sempre e em tudo à divina vontade, completamente despida de toda vontade própria. Ela mesma declarou que Deus Se tinha agradado de Sua obediência.
“Ele olhou a baixeza de Sua serva.”
A humildade própria de uma serva é ser sempre pronta a obedecer. Por Sua obediência, reparou Maria o dano causado pela desobediência de Eva, afirma Santo Irineu.
“Como a desobediência de Eva causou a morte ao gênero humano, assim pela obediência foi a Virgem, para Si e para a humanidade, a causa da salvação.”
A obediência de Maria foi muito mais perfeita que a de todos os Santos
É óbvia a razão disso. Pois todos os homens, sendo inclinados ao mal por causa do pecado original, sentem dificuldades na prática do bem. Mas tal não se deu com a Santíssima Virgem. Isenta da culpa original, nada tinha que a impedisse de obedecer a Deus, escreve São Bernardino de Sena. Como uma roda segue facilmente o impulso que lhe é dado, movia-Se também a Virgem a cada impulso, com prontidão. Viveu observando e executando fielmente o divino beneplácito, continua o mesmo Santo. Bem Lhe ficam as palavras dos Cânticos:
A minha alma se derreteu, assim que meu amado falou (5,6).
Na opinião de Ricardo, a alma da Virgem se liquefazia, semelhante a um metal derretido, estando disposta a tomar todas as formas que Deus Lhe quisesse dar.
Maria mostra, com efeito, quanto era pronta na obediência
Para agradar a Deus, quis obedecer ao imperador romano, fazendo uma longa viagem de 30 milhas a Belém. Fê-La nos rigores do inverno, quando esperava dar à luz o Seu Filhinho. Sobre isso era tão falta de recursos, que Se viu reduzida a ver nascer-Lhe o Filho numa estrebaria. Mostrou-Se igualmente pronta ao receber o aviso de São José, pondo-Se imediatamente a caminho, na mesma noite, para a viagem ainda mais longa e penosa do Egito. Aqui pergunta Silveira por que razão a necessidade de fugir para o Egito foi revelada a São José, e não à bem-aventurada Virgem, a quem a viagem devia custar ainda mais. Responde então:
Foi para que Ela desse modo pudesse exercer a obediência.
Porém Maria demonstrou sobretudo Sua heroica obediência à divina vontade, quando ofereceu o Filho à Morte.
Na grandeza de Sua constância, dizem o Vulgato Ildefonso e Santo Antonino, estaria disposta a crucificá-Lo, se houvessem faltado os algozes.
À exclamação da mulher que o interrompia com as palavras:
“Bem-aventurado o ventre que Te trouxe e os peitos que Te amamentaram”
Respondeu o Salvador:
“Antes, bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em obra.” (Lc 11,27-28)
São Beda, o Venerável, assim comenta a passagem:
Maria era mais Bem-Aventurada por Sua obediência a Deus, do que por motivo de Sua dignidade como Mãe do Senhor.
Razão é essa pela qual muito Lhe agradam por isso as almas amantes da obediência. Apareceu Ela um dia a um religioso franciscano, chamado Acúrcio. Mas eis que da cela o chamam para confessar um enfermo. Deixou-A, portanto, o religioso, mas de volta A encontrou ainda. A Virgem o estava esperando e muito Lhe louvou a obediência. Pelo contrário, repreendeu outro religioso que, ouvindo o sino chamar para o refeitório, se demorou a concluir certas devoções.
Também falou a Virgem a Santa Brígida da segurança que há em obedecer ao diretor espiritual, e disse-lhe que a obediência, a quantos a praticam, leva-os ao Paraíso
Donde, dizia S. Filipe Néri, que Deus não pede conta do que fizemos por obediência, porque tornou essa virtude uma obrigação para nós.
“O que vos ouve, a Mim ouve; o que vos despreza, a Mim despreza” (Lc 10,16).
A Santa Brígida disse também a Mãe de Deus que, pelo merecimento de Sua obediência, havia Ela obtido do Senhor a graça de alcançar o perdão a todos os pecadores, que arrependidos a Ela recorressem. Ó amável Rainha e Mãe, rogai a Jesus que nos conceda, pelos méritos de Vossa obediência, a graça de seguir fielmente as ordens de Deus e as disposições de nossos diretores espirituais. Amém.
EXEMPLO
Pelo fim do século décimo oitavo uma onda de racionalismo e de indiferença religiosa tinha invadido vastas camadas da sociedade. Muitos, especialmente das classes cultas, não cumpriam mais os deveres da Religião nem queriam saber de ensino religioso, nem de pregações sobre os dogmas católicos e os mandamentos divinos. As devoções e práticas de piedade, entre elas particularmente o Rosário, eram alvo de contínuas críticas e zombarias.
Para vencer estas tendências ímpias e restaurar a vida e a piedade cristã na Polônia, Áustria e sul da Alemanha, escolheu Deus São Clemente Maria Hofbauer. Operário incansável na vinha do Senhor encontrava este santo na recitação do Rosário a força e coragem em suas lutas e a graça de conseguir resultados extraordinários em seus trabalhos.
Clemente aprendeu rezar o terço já em tenra idade. Foi sua mestra sua piedosa mãe que não somente o ensinou, mas também, plantou em sua alma um amor e gosto tão grande por esta devoção que durante toda a sua vida foi nela constante e assíduo. Grandes dificuldades opuseram-se à sua vocação sacerdotal e muitas foram as peripécias que teve que passar até conseguir seu fim. Se ele não desanimou e se encontrou sempre meios de prosseguir em seu caminho, foi porque rezava o terço e por ele merecia a especial proteção de Maria cujo apóstolo devia ser mais tarde. Disse ele um dia:
“Pelo Rosário, sempre alcancei tudo quanto queria”
Ordenado sacerdote, Clemente tornou-se logo Apóstolo do Rosário. Introduzia ou restabelecia nas igrejas a recitação do terço, recomendava esta devoção em suas pregações e aconselhava-a a seus penitentes e em suas conversações particulares. Um dia viajou junto com um jovem estudante; depois de conversarem algum tempo, ficou silencioso e vendo que o jovem começava a enfadar-se, perguntou-lhe:
“Sabes o que estou fazendo? Estou rezando o terço”
E o jovem, admirando este modo de empregar o tempo, seguiu lhe desapercebidamente o exemplo. O seu zelo de propagar o rosário trouxe-lhe graves perseguições por parte de vários grandes de seu tempo, porém ele sofreu com íntima alegria.
Durante os anos que Clemente passou em Viena, foi chamado muitas vezes à cabeceira dos moribundos, especialmente dos que há muito viviam afastados da Religião. Um padre, companheiro seu, diz que ele preparou para a morte mais de dois mil doentes. Ele, como de costume, passava pelas ruas tendo na mão oculta sob o manto seu tercinho e rezando. Uma vez ele disse:
“Quando o tempo chega para rezar o terço no caminho à casa do doente, já sei que tudo irá bem”
Um dia chamaram-no para sacramentar um doente que não queria confessar-se e já tinha recusado doze sacerdotes. Tendo rezado seu terço estava muito seguro do êxito e vendo o doente, disse em voz alta:
“Com este não terei dificuldade”
E chegando-se a ele falou com muita caridade e logo o levou a converter-se. Outra vez pediram-no de assistir um homem muito nobre, mas afastado dos Sacramentos há 20 anos. Vendo Pe. Clemente, o enfermo irritou-se muito, insultou-o e mandou-o retirar-se. O santo aconselhou-o com toda brandura, mas o doente só o mandava sair. Então o santo foi até a porta e ali se assentou e começou a rezar o terço, fitando o doente. Este gritou:
“Que queres aí? Vai-te embora“
Clemente respondeu com firmeza:
“Não vou, a sua morte está próxima; já vi muita gente morrer bem, agora quero ver como morre um condenado”
A estas palavras o doente calou-se e refletiu, logo chamou o santo, pediu-lhe desculpa, e confessou-se muito contrito e morreu na paz do Senhor: mais um que o terço salvou.
Aos acadêmicos e outros que o visitavam, Clemente dava um tercinho que facilmente podiam esconder na mão, e aconselhava-os de o rezarem ao passarem pelas ruas, especialmente à tarde que os havia de livrar de tentações e maus pensamentos e alcançar-lhes muitas graças. Também os exortava a propagar o terço em toda a parte.
Assim foi São Clemente um grande devoto e zeloso apóstolo do Rosário.
ORAÇÃO
Ó bendita entre todas as mulheres, sois a honra do gênero humano, a salvação de Vosso povo. Vosso merecimento não tem limites, e Vosso império estende-se sobre todas as criaturas. Sois Mãe de Deus, Senhora do mundo, Rainha do Céu. Sois a dispensadora de todas as graças, o adorno da Santa Igreja, o modelo dos justos, a consolação dos Santos, a raiz de nossa salvação. Do Paraíso sois a alegria, do Céu a porta, de Deus a glória. Temos publicado Vossos louvores. Rogamos, pois, ó Mãe de bondade, que Vos digneis suprir a nossa fraqueza, escusar a nossa audácia, aceitar nossa servidão e abençoar nosso trabalho, imprimindo no coração de todos o Vosso amor, para que, depois de termos honrado e amado na Terra Vosso Filho, possamos louvá-Lo e bendizê-Lo eternamente no Céu. Amém.
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